Alunos usam Pilates em pesquisa de iniciação científica

Tratamento visa aumentar a qualidade de vida de paciente com encefalopatia crônica

 

 por Luiza Collet

Você já ouviu falar em contrologia, que é o controle consciente de todos os músculos do corpo? Provavelmente, sim. Popularizado como Pilates, em homenagem ao alemão Joseph Pilates, que desenvolveu o método, a contrologia ganha cada vez mais adeptos em busca do corpo perfeito. Mas, mais do que uma fórmula para a beleza, o pilates é, desde sua origem, uma ferramenta de reabilitação física. E com esse fim terapêutico, um grupo de estudantes de Fisioterapia da Universidade Veiga de Almeida (UVA), sob a orientação do professor Cláudio Queiroz, está desenvolvendo um projeto de iniciação científica com estudo de caso.

Lediane Gonçalves Quintanilha, uma jovem de 22 anos de idade e aluna do terceiro período de Psicologia, aceitou a proposta do grupo e, desde janeiro, recebe os cuidados dos futuros fisioterapeutas. Lediane possui encefalopatia crônica não progressiva da infância, do tipo atáxica, também conhecida como paralisia cerebral, que a limita fisicamente, impedindo até mesmo de desenvolver atividades corriqueiras, como pentear o cabelo. Para se locomover, utiliza uma cadeira de rodas motorizada e conta com o apoio irrestrito dos pais e do namorado. E, desde janeiro, os alunos de Fisioterapia, Aline Nascimento e Gustavo Mota Fernandes, ambos do 7° período, e as colegas Karine Cirino e Patrícia Botelho, do 8°, passaram a fazer parte da rotina semanal de Lediane.

A ideia dos jovens pesquisadores é utilizar o Pilates para melhorarar a qualidade de vida da jovem, contribuindo para que ela desenvolva maior autonomia, ganhe força muscular, equilíbrio, reflexo, coordenação motora, entre outros benefícios. Os encontros ocorrem três vezes por semana, com duas horas de muito esforço por parte de Lediane, compensado com o carinho dos alunos e a vista privilegiada da Lagoa de Araruama. Lediane conta que já se sente melhor e a expectativa por uma vida mais autômona é grande. “Não consigo fazer nada sem a ajuda dos outros. Queria muito poder me arrumar sozinha e sair desacompanhada”, diz. Outro desejo de Lediane é poder ficar em pé. E Lediane não quer essa liberdade só para si. “Todos os dias meus pais me levam para faculdade e ficam esperando até o fim da aula”, conta.

E esse apoio da família é apontado pelo professor Cláudio como um diferencial no tratamento. Fã incondicional de milk shake, Lediane recebeu a recomendação de perder peso. “O estímulo da família é fundamental. A reeducação alimentar vai ajudar não só na perda de peso, mas trará benefícios para a saúde, além de contribuir para o tratamento que estamos desenvolvendo”, enumera o professor. “Meu namorado está levando mais a sério do que eu. Só me deixa comer salada”, diz sorrindo.

O tratamento

Gustavo explica que antes de iniciar o tratamento, foram realizadas diversas avaliações, que servirão para traçar um gráfico de evolução até o fim do trabalho de pesquisa. A cada dois meses, os critérios serão reavaliados. “Isso permite readequar o tratamento, caso seja necessário”, ressalta. A escolha dos exercícios, sequência e intensidade também foram escolhidos de acordo com a disfunção da paciente e o resultado dessas avaliações. “Fizemos as adequações tanto dos exercícios, quanto dos equipamentos para atender as necessidades da Lediane”, explica Karine. Todo o tratamento, desde a definição dos exercícios até a aplicação dos mesmos, é decidido em grupo. Enquanto dois alunos dão atenção à paciente, os demais filmam, fotografam e anotam tudo o que acontece. “Essa troca está nos proporcionando crescimento pessoal e amadurecimento profissional”, diz Karine. 

O professor Cláudio ressalta que o método é reconhecido internacionalmente e cientificamente comprovado. “Não é um tratamento experimental e não estamos inventando nada de novo”, diz. A condução da pesquisa está sendo fiel ao método original. “Temos certeza de que os resultados serão satisfatórios”, ressalta o professor.

E esse material produzido no decorrer do ano será transformado em publicação científica. “Poderá servir de referência para o tratamento de pessoas com disfunções parecidas. Os profissionais poderão utilizar o trabalho como fonte de consulta e até mesmo aprimorá-lo”, diz Gustavo.

Como estão nos últimos semestres do curso, os alunos já pensam no futuro profissional e o Pilates como ferramenta terapêutica faz parte das aspirações de todos eles. “É muito gratificante poder acompanhar a evolução benéfica do tratamento”, compartilha Gustavo.